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Spes X Lady I.

Certa vez, comentei com um amigo sobre os efeitos da solidão, sobre aquela sensação de insanidade que fica perene ao nosso redor... uma insanidade que às vezes parece se personificar, que bate à nossa porta a cada vez que a solidão começa a tomar conta... Como diria Oswaldo Montenegro, é aquela face da solidão "que a gente às vezes acha que é carga demais, que a gente jura por Deus que não merecia". Acho que, ainda nos tempos da solidão Porto-alegrense, cheguei a escrever um pouco sobre esta sensação de insanidade personificada, e ela inclusive chegou a inspirar outro grande amigo, o Ezequiel (forte abraço, irmão!), a criar um personagem de história em quadrinhos (se não me engano, chamada Lady I.).

Pois eu poderia passar linhas e mais linhas por aqui falando de saudade e solidão... falando da força de Lady I. ou mesmo do medo de que ela chegue e tome conta. Mas existe uma coisa muito importante sobre ela que todos precisam saber: ela se alimenta deste medo, deste desespero, desta nossa mania de ficar remoendo e remoendo o quão triste é a tristeza, ou o quão solitária é a solidão. Mas, como diria Vinícius de Moraes, "a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não".

Então, é desta esperança que eu vou escrever um pouquinho... é a ela que eu costumo me apegar para enfrentar a poderosa Lady I, com suas causas e seus efeitos. A palavra 'Esperança' vem do latim 'spes', que também era o nome de um espírito na mitologia romana, equivalente a Elpis, na mitologia grega. Dizem que certa feita, depois que o tal de 'Prometheus' criou a humanidade, ele roubou o fogo dos céus, provavelmente para assar aquele costelão doze horas com os xirus que acabaram de chegar no mundo. Só que Zeus, que era um índio meio maula, se revoltou com esta história, e mandou uma china lindaça, uma tal de Pandora, para causar o entreveiro na humanidade. Esta china casou com o irmão do tal do 'Prometheus', e Zeus mandou como presente uma caixa cheia de demônios e espíritos maus. Quando a Pandora (não sei se por inocente ou se por maleva) abriu a caixa, os demonios escaparam pelo mundo, e começou toda a bagunça que a gente vê mundo afora. O único espírito que ficou na caixa, para dar conforto e apoio a humanidade, foi exatamente Elpis (Spes).

Acontece que, hoje em dia, muita gente ainda segue se apegando a 'Spes' de uma maneira comodista, achando que 'esperança' consiste meramente em esperar que as coisas melhorem por si só (ou por alguma intervenção divina). Com isto, seguem sentados, esperando, e como as coisas (geralmente) não vão para a frente sem um empurrãozinho da nossa parte, a esperança dá lugar a frustração, à reclamação e, novamente, começa a alimentar aquela indesejada companheira da qual eu vinha falando.

Desta maneira que eu coloquei, dependendo da ótica de quem lê, parece que está tudo perdido... se a gente deixa 'Spes' de lado, a gente cai nas garras dos demônios, se a gente se apega a ela, a gente deixa a guarda aberta para os demônios atacarem. Mas minha linha de argumentação é um sutilmente diferente... O que eu quero dizer é que para encarar os demônios, para não deixar a Insanidade tomar conta, a gente precisa de um apoio, de um suporte, de uma 'Spes' de alguma forma... de algo que nos dê a força necessária para seguir em frente, sem o conforto exagerado a ponto de nos deixar sentados esperando por algo que nem sabemos o que é (nem tampouco se vai acontecer).

Pois é... como muitos devem ter percebido, todo este meu 'blá blá blá' é apenas para introduzir o que eu realmente quero dizer. Como eu costumo brincar com algumas amigas (especialmente a Lu Feijó, que tem sido fantástica aturando um bêbado ligando para ela nas madrugadas :P), parece que nós, homens, crescemos sempre com uma barreira ao redor dos nossos sentimentos, tal que a gente tem menos medo de encarar exércitos do que dde dizer 'Eu te amo' para alguém. Então, toda esta enrolação é só para tornar mais fácil a tarefa de agradecer a minha 'Spes' - a fonte de toda a força que ainda tenho nestes momentos difíceis - que são a família e os amigos que realmente amo muito.

Recebi, nos últimos dias, dois presentes maravilhosos que me sensibilizaram muito. Um deles foi o convite para ser padrinho do Daniel, filho da Fátima que nasceu nos últimos dias - não sei o que passa na cabeça desta maluca de convidar um ser ainda mais maluco para padrinho de uma criança tão fofa, mas sei que sou imensamente grato, não só pelo convite, mas por esta nossa amizade de tanto tempo (obrigado também ao Mono, parabéns pelo filhote lindo, que espero que seja gremista como o pai!!!). O outro presente, (daqui a uns dias boto uma foto para vcs verem), é o Pavilhão Tricolor, a bandeira da minha querência amada, com a assinatura de muitas pessoas que amo (e que sinto muita saudade): Obrigado Pai e Mãe, não só por ter idealizado tudo, mas por tudo o que vocês foram e são na minha vida... obrigado Quell e Bolívar, vcs sabem que são a razão mais forte desta minha vontade de vencer e voltar! Obrigado a tia Maristela e ao Lucas, que tantas vezes me trataram como um filho e irmão (e podem ter certeza que este sentimento é recíproco). Obrigado à 'Dinda Beca', que mesmo que a gente não tenha tanto contato, sempre carrego comigo como um exemplo de força e de superação. Obrigado a todos os outros familiares, cada um de vocês é especial para mim, e a saudade e a vontade de estar perto de todos é sempre muito forte. E obviamente, obrigado àquele povo daquela da Vila Farroupilha (ou melhor, Rua Jornalista Salvador Hitta Porres, pois a vila era mais embaixo um pouquinho :P)... a esta gente maravilhosa que cresceu comigo, naquele cantinho de mundo que ainda carrego nas lembranças e nos sonhos de minhas noites inquietas - podem ter certeza que, se hoje dou tanto valor a idéia de amizade, é por que desde a infância tive amigos maravilhosos como vocês!!!

Para finalizar, tenho estado com um trecho de uma música da Legião na cabeça ultimamente, que diz "Já não sei o que aconteceu, se tudo o que sonhei foi mesmo um sonho meu, se meu desejo então já se realizou, o que fazer depois??? para onde é que eu vou???" - Mesmo que os ventos do destino possam vir a mudar meus rumos nos tempos vindouros, acho que o parágrafo acima (juntamente com tantas outras outras pessoas também intensamente especiais na minha vida) respondem a esta pergunta. E se a tristeza tem a esperança de um dia não ser triste, a minha solidão tem hoje a esperança de estar com vocês em breve, de viver e construir o que for preciso por estas bandas de cá, de fazer valer a pena este sonho europeu, para que ele não seja só a tristeza da distância, mas também a felicidade de desbravar novos pagos, conhecer novas culturas, viver intensamente um pouco mais o que esta oportunidade me proporcionou.

Ah... como um 'Post Scriptum', não pensem que a vida por aqui é só solidão não. Se vocês entrarem em picasaweb.google.com/passarel vão ver algumas das coisas que ando aprontando com os grandes amigos que estão por aqui. Só achei desnecessário contar as histórias das viagens no blog, pois dizem que uma imagem vale por mil palavras - e como são muitas fotos, talvez para explicar todas seria necessária uma quantidade de palavras que deixaria a leitura do blog ainda mais enfadonha. E, se nada der errado, em agosto cruzarei o Atlântico para passar umas semanas com o povo por aí (em breve mais detalhes).

1 comentários:

Anônimo disse...
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