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Diário (mas não muito) de um experimento: Dias 2 a 5 - Sobre gente grande

Dentre o público leitor deste blog, aquele post em que eu falei que não tenho mais 17 anos causou uma certa polêmica (Por 'público do blog', entenda-se meia dúzia de pessoas, e por 'certa polêmica', entenda-se um ou outro comentário). Porém, mais um indício desta minha constatação pode ser detectado no que ocorreu nesta última semana. Para resumir a história, todas as madrugadas repetiram a primeira, onde o sono foi mais forte e não foi possível manter um nível considerável de produtividade (para não dizer que foram totalmente improdutivas). Porém, uma boa notícia é que as manhãs foram bem mais inspiradas, e não fossem os resultados negativos na minha pesquisa, eu teria colocado muita coisa atrasada em ordem.

Mas, desta percepção da primeira semana, me vem a mente o princípio de Occam. Basicamente, o tal do Willian of Ockham, um frade franciscano e filósofo aqui da Inglaterra, declarou certa feita que uma entidade (hipótese) não deve ser criada ou multiplicada sem necessidade, ou seja, de duas explicações para um determinado evento, deve-se dar prioridade àquela mais simples (baseada em menos hipóteses). O que quero dizer é que, se minhas manhãs são produtivas, por que não considerar a explicação mais simples (ao menos de acordo com o senso comum), de que eu devo dormir cedo e acordar cedo???

A resposta para isso é, também, bastante simples... Quem acompanhou o programa humorístico do Chico Anysio, no final dos anos 80 ou início dos 90, deve lembrar de um personagem chamado 'o Jovem', cujo mote era 'eu sou jovem, e jovem é outro papo'. Basicamente, o personagem era caracterizado por fazer tudo diferente dos padrões (o único exemplo que me lembro claramente é de tomar sopa de garfo - o que para mim é um padrão devido a falta de caldo nas sopas que faço). A minha idéia de ficar acordado na madrugada pode ser, de fato, visto como uma destas tentativas de fugir destes padrões de gente grande, talvez algo inconsciente, como uma tentativa de minh'alma para permanecer jovem.

Não que eu realmente precise disto - quando olho para os lados, e vejo este mundo que eu vivo, não me canso de notar que eu ainda compartilho aquela opinião do Pequeno Príncipe de Saint-Exupery: "Gente grande é bem estranha" (Les grandes personnes sont bien étranges) - diga-se de passagem, um livro que posso ler milhares de vezes, e sempre me sensibilizo quando leio.

Uma passagem do livro que acho fascinante, é aquela que diz que gente grande só consegue entender números. Se disseres para um adulto que tem uma casa bonita, bem ilumidada, com um jardim grande e flores na sacada, ele não tem nem idéia do que é esta casa. Mas, se disseres que a casa tem 10 de frente por 20 de fundo, e custou 50 mil, pode ter certeza que vão te dizer que foi ou não um bom negócio. Exageros à parte, acredito que ele tem grande razão.

Um exemplo parecido, eu encontrei ao passear com diferentes pessoas pela Europa. Para muitos dos meus amigos, fazer turismo é conhecer (e tirar fotos, é claro) Tour Eiffel, Big Ben e De Wallen. Mas, pude perceber que às vezes não conseguiam me entender, quando eu admirava um jardim com flores, uma construção diferente daquelas dos pontos turísticos, ou quando tentava explicar o quanto um lugar fora importante quando eu cheguei aqui.

Mas não critico eles... com certeza eles tem razão em querer 'conhecer e aproveitar ao máximo enquanto estão aqui'. E com certeza, também, os roteiros turísticos são maravilhosos, principalmente para nós que viemos do outro lado do oceano. Mas, intimamente, não consigo assimilar esta mania de 'gente grande', de querer contar, e guardar, e seguir roteiros e planos. Particularmente, ainda sou mais fã de sensações do que de rótulos - mas conto com todos vocês, meus amigos, pois sou um completo perdido para fazer turismo e seguir roteiros.

Mas, por fim, resta uma pergunta crucial: se, por motivos diversos, eu argumento que não tenho mais 17 anos - e por outro lado não consigo ser 'gente grande', que idade então eu tenho??? A resposta, felizmente, eu encontrei em duas lojas de brinquedos que eu visitei por aqui (claro, com a desculpa de procurar presente para o Bolívar e o Daniel). Dado o quanto eu fiquei bobo com as prateleiras de Lego, e os quebra-cabeças, e os carrinhos e robôs, e bolinhas de gude (sim, para meu deleite, elas ainda existem) e bolas de futebol, cheguei a conclusão que são meus pais quem tem razão: eu ainda sou é uma criança!!!

Abaixo, um videozinho de acordo com a temática do post: Balão Mágico para ilustrar as memórias mais longínquas da minha infância, com a música 'Lindo Balão Azul', que às vezes acho que tem a ver comigo, não sei se 'porque sou um cientista, o meu papo é futurista, é lunático' ou se porque 'tenho alma de artista, sou um gênio sonhador e romântico'. Forte abraço a todos.





Diário de um experimento: Dia 1 (meridianos e paralelos)

Bueno... não tenho muito a dizer sobre este primeiro dia... acordei por volta das 20h30, e fiquei fazendo uma ou outra tarefa doméstica, até começar a falar com o pai e a mãe pela internet. Uma das dificuldades nesta vida Londrina é a sincronização com o meridiano de Greenwich e seu horário, então as madrugadas insones também ajudam a manter a comunicação com o povo do meu fuso natural.

Porém, o experimento em seu primeiro dia não foi muito positivo. Acabei cedendo ao sono da madrugada (dormindo pouco mais de duas horas), e o período da madrugada não foi muito produtivo. Os resultados da manhã, também, não foram de todo bons - mas principalmente por causa da instabilidade dos sistemas dinâmicos com que trabalho (a desculpa para dizer os resultados de meus experimentos seguem, ao menos, difíceis de entender - e ainda mais de explicar). Ao menos a manhã serviu para reforçar minha idéia de que não devo sair pela manhã depois das 7:30, para não pegar a versão britânica do 'trem de lata de sardinha' - não como o trem do gurizinho da música 'trem de lata', mas como um bando de vagões com pessoas se apertando como sardinhas enlatadas.

Ao menos, tenho carregado comigo um sorriso nos lábios... Talvez a inversão da latitude, e os dias gris de London, tenham confundido um pouco meus instintos, pois com certo atraso parece que estou começando a sentir os efeitos da primavera, da beleza de uma ou outra flor encontrada no caminho. De qualquer forma, creio que não perdi minha estranha mania de sorrir a maior parte do tempo (mesmo que eu venha usando este blog para resmungar um pouco), até mesmo porque não acredito que tristeza, mal humor e cara feia são capazes de resolver qualquer coisa nesta vida...

Diário de um experimento - Prólogo

Interrompemos a programação normal deste blog (que consiste em ficar semanas sem postar nada) por um motivo de interesse científico: usarei o blog para relatar um experimento que irei conduzir nas próximas duas semanas. Desde meus bons tempos de graduação (talvez até um pouco antes), tenho a convicção de que o período de trabalho pela madrugada é mais produtivo. Durante o mestrado, consegui perceber também que as manhãs que seguem estas madrugadas de trabalho também costumam propiciar uma produtividade bem razoável.

Acho que já comentei com algumas pessoas que meu horário ideal para produzir bem seria dormir à tarde e trabalhar pela noite e pela manhã. Então, resolvi aproveitar estas últimas semanas antes do solstício de verão para avaliar esta hipótese. Meu experimento, então, consiste em manter um 'timetable' um pouco mais estrito durante as próximas duas semanas (mais especificamente até o sábado, 21 de junho), e avaliar se eu realmente consigo me adaptar ao horário e se realmente vai ocorrer um aumento no meu nível de produtividade (que anda muito baixo ultimamente).

A partir de hoje (terça-feira, 10) meus dias vão começar entre às 20h e 22h, horário que pretendo acordar. A partir de então, faço um café, organizo qualquer coisa que seja necessário em casa, e começo a trabalhar até a meia noite. Me mantenho trabalhando em casa até às 6 da manhã, quando paro para um banho e outra refeição e me desloco para o campus, onde fico trabalhando até o meio dia. Ao meio dia, volto para a casa, almoço e vou dormir. No fim de semana, deixarei meio liberado para algum outro programa, desde que isso afete este muito horário planejado de sono.

A idéia de usar o blog para descrever o que está acontecendo é, principalmente, para me sentir um pouco mais de obrigação de relatar este período - o fato de estar na internet implica que outras pessoas podem ler, e aumenta um pouquinho a responsabilidade de escrever (e do que escrever). Farei o possível para tornar a leitura de vocês mais agradável, porém não acredito que será algo muito interessante de ler. Ainda assim, para aqueles interessados, colocarei diariamente um post, mesmo que pequeno, dizendo o que está acontecendo realmente.

Para começar este relato, posso dizer que estou iniciando bem empolgado com a idéia. Passei um fim de semana bem divertido, na companhia da Helena - colega de graduação que veio passar uns dias em London. O fato de levar ela na estação no início desta manhã facilitou o processo de sincronização - fui ao campus cedo pela manhã e trabalhei (mesmo morrendo de sono) até o meio dia, para depois almoçar em casa e dormir. Como meu orientador não estará por aqui nestas semanas, não tenho a obrigação de ir à universidade à tarde, o que possibilita todo o processo.

Bueno, não tenho muito por escrever agora... se estão interessados em saber mais sobre esta minha idéia maluca - ou mesmo para ver quanto tempo eu agüento sem acabar dormindo por um dia inteiro - acompanhem por aqui os próximos episódios desta saga!!!

Forte abraço a todos

Spes X Lady I.

Certa vez, comentei com um amigo sobre os efeitos da solidão, sobre aquela sensação de insanidade que fica perene ao nosso redor... uma insanidade que às vezes parece se personificar, que bate à nossa porta a cada vez que a solidão começa a tomar conta... Como diria Oswaldo Montenegro, é aquela face da solidão "que a gente às vezes acha que é carga demais, que a gente jura por Deus que não merecia". Acho que, ainda nos tempos da solidão Porto-alegrense, cheguei a escrever um pouco sobre esta sensação de insanidade personificada, e ela inclusive chegou a inspirar outro grande amigo, o Ezequiel (forte abraço, irmão!), a criar um personagem de história em quadrinhos (se não me engano, chamada Lady I.).

Pois eu poderia passar linhas e mais linhas por aqui falando de saudade e solidão... falando da força de Lady I. ou mesmo do medo de que ela chegue e tome conta. Mas existe uma coisa muito importante sobre ela que todos precisam saber: ela se alimenta deste medo, deste desespero, desta nossa mania de ficar remoendo e remoendo o quão triste é a tristeza, ou o quão solitária é a solidão. Mas, como diria Vinícius de Moraes, "a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não".

Então, é desta esperança que eu vou escrever um pouquinho... é a ela que eu costumo me apegar para enfrentar a poderosa Lady I, com suas causas e seus efeitos. A palavra 'Esperança' vem do latim 'spes', que também era o nome de um espírito na mitologia romana, equivalente a Elpis, na mitologia grega. Dizem que certa feita, depois que o tal de 'Prometheus' criou a humanidade, ele roubou o fogo dos céus, provavelmente para assar aquele costelão doze horas com os xirus que acabaram de chegar no mundo. Só que Zeus, que era um índio meio maula, se revoltou com esta história, e mandou uma china lindaça, uma tal de Pandora, para causar o entreveiro na humanidade. Esta china casou com o irmão do tal do 'Prometheus', e Zeus mandou como presente uma caixa cheia de demônios e espíritos maus. Quando a Pandora (não sei se por inocente ou se por maleva) abriu a caixa, os demonios escaparam pelo mundo, e começou toda a bagunça que a gente vê mundo afora. O único espírito que ficou na caixa, para dar conforto e apoio a humanidade, foi exatamente Elpis (Spes).

Acontece que, hoje em dia, muita gente ainda segue se apegando a 'Spes' de uma maneira comodista, achando que 'esperança' consiste meramente em esperar que as coisas melhorem por si só (ou por alguma intervenção divina). Com isto, seguem sentados, esperando, e como as coisas (geralmente) não vão para a frente sem um empurrãozinho da nossa parte, a esperança dá lugar a frustração, à reclamação e, novamente, começa a alimentar aquela indesejada companheira da qual eu vinha falando.

Desta maneira que eu coloquei, dependendo da ótica de quem lê, parece que está tudo perdido... se a gente deixa 'Spes' de lado, a gente cai nas garras dos demônios, se a gente se apega a ela, a gente deixa a guarda aberta para os demônios atacarem. Mas minha linha de argumentação é um sutilmente diferente... O que eu quero dizer é que para encarar os demônios, para não deixar a Insanidade tomar conta, a gente precisa de um apoio, de um suporte, de uma 'Spes' de alguma forma... de algo que nos dê a força necessária para seguir em frente, sem o conforto exagerado a ponto de nos deixar sentados esperando por algo que nem sabemos o que é (nem tampouco se vai acontecer).

Pois é... como muitos devem ter percebido, todo este meu 'blá blá blá' é apenas para introduzir o que eu realmente quero dizer. Como eu costumo brincar com algumas amigas (especialmente a Lu Feijó, que tem sido fantástica aturando um bêbado ligando para ela nas madrugadas :P), parece que nós, homens, crescemos sempre com uma barreira ao redor dos nossos sentimentos, tal que a gente tem menos medo de encarar exércitos do que dde dizer 'Eu te amo' para alguém. Então, toda esta enrolação é só para tornar mais fácil a tarefa de agradecer a minha 'Spes' - a fonte de toda a força que ainda tenho nestes momentos difíceis - que são a família e os amigos que realmente amo muito.

Recebi, nos últimos dias, dois presentes maravilhosos que me sensibilizaram muito. Um deles foi o convite para ser padrinho do Daniel, filho da Fátima que nasceu nos últimos dias - não sei o que passa na cabeça desta maluca de convidar um ser ainda mais maluco para padrinho de uma criança tão fofa, mas sei que sou imensamente grato, não só pelo convite, mas por esta nossa amizade de tanto tempo (obrigado também ao Mono, parabéns pelo filhote lindo, que espero que seja gremista como o pai!!!). O outro presente, (daqui a uns dias boto uma foto para vcs verem), é o Pavilhão Tricolor, a bandeira da minha querência amada, com a assinatura de muitas pessoas que amo (e que sinto muita saudade): Obrigado Pai e Mãe, não só por ter idealizado tudo, mas por tudo o que vocês foram e são na minha vida... obrigado Quell e Bolívar, vcs sabem que são a razão mais forte desta minha vontade de vencer e voltar! Obrigado a tia Maristela e ao Lucas, que tantas vezes me trataram como um filho e irmão (e podem ter certeza que este sentimento é recíproco). Obrigado à 'Dinda Beca', que mesmo que a gente não tenha tanto contato, sempre carrego comigo como um exemplo de força e de superação. Obrigado a todos os outros familiares, cada um de vocês é especial para mim, e a saudade e a vontade de estar perto de todos é sempre muito forte. E obviamente, obrigado àquele povo daquela da Vila Farroupilha (ou melhor, Rua Jornalista Salvador Hitta Porres, pois a vila era mais embaixo um pouquinho :P)... a esta gente maravilhosa que cresceu comigo, naquele cantinho de mundo que ainda carrego nas lembranças e nos sonhos de minhas noites inquietas - podem ter certeza que, se hoje dou tanto valor a idéia de amizade, é por que desde a infância tive amigos maravilhosos como vocês!!!

Para finalizar, tenho estado com um trecho de uma música da Legião na cabeça ultimamente, que diz "Já não sei o que aconteceu, se tudo o que sonhei foi mesmo um sonho meu, se meu desejo então já se realizou, o que fazer depois??? para onde é que eu vou???" - Mesmo que os ventos do destino possam vir a mudar meus rumos nos tempos vindouros, acho que o parágrafo acima (juntamente com tantas outras outras pessoas também intensamente especiais na minha vida) respondem a esta pergunta. E se a tristeza tem a esperança de um dia não ser triste, a minha solidão tem hoje a esperança de estar com vocês em breve, de viver e construir o que for preciso por estas bandas de cá, de fazer valer a pena este sonho europeu, para que ele não seja só a tristeza da distância, mas também a felicidade de desbravar novos pagos, conhecer novas culturas, viver intensamente um pouco mais o que esta oportunidade me proporcionou.

Ah... como um 'Post Scriptum', não pensem que a vida por aqui é só solidão não. Se vocês entrarem em picasaweb.google.com/passarel vão ver algumas das coisas que ando aprontando com os grandes amigos que estão por aqui. Só achei desnecessário contar as histórias das viagens no blog, pois dizem que uma imagem vale por mil palavras - e como são muitas fotos, talvez para explicar todas seria necessária uma quantidade de palavras que deixaria a leitura do blog ainda mais enfadonha. E, se nada der errado, em agosto cruzarei o Atlântico para passar umas semanas com o povo por aí (em breve mais detalhes).

Neve na primavera

'Não tenho mais dezessete anos!' Acho que já repeti esta frase mais de uma vez nos últimos anos, e acho que repeti mais algumas vezes no fim de semana. Já escrevi e re-escrevi trechos para este post várias vezes, mas todos eles começaram com esta frase. Não quero, com isso, dizer que me sinto triste por estar envelhecendo, ou que eu queria voltar no tempo para aproveitar melhor a vida, coisas que a gente ouve muito seguidamente por aí e que não tem nada a ver comigo, pois não me arrependo de ter feito ou deixado de fazer qualquer coisa na adolescência. Mas a verdade é sigo vivendo uma 'vida de estudante, sem rotinas e timetables muito restritivos, e também nunca vivi um relacionamento realmente sério, que me propiciasse uma expectativa de constituir família, et cetera e tal. Por isso, acho que às vezes custo a cair na realidade de que deixei de ser um adolescente, e por muitas vezes concordo com a visão de adultos do 'Pequeno Príncipe' de Exupery. Mas, às vezes noto que eu mudei muito... Muito por causa do tempo, mas também muito por causa das despedidas e da solidão. E o que me assusta, é aquilo q o Oswaldo Montenegro, na música 'A Lista', pergunta: "Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você???"

Meu 'feriadão' começou na quinta-feira. Saí às pressas de casa para me reunir com o meu orientador, e foi uma daquelas reuniões que realmente valem a pena... Mesmo que o tópico tenha sido bastante abstrato, e ainda não tenhamos chegado num consenso, ao menos posso sentir tanto que ele respeita minha opinião, e que nosso trabalho está tomando forma e rumo. Saí de novo às pressas para pegar Carlinha em St Pancras, vinda da Bélgica para passar o findi comigo. Dali, passamos em casa, saímos para comer algo e fomos para um Pub em SoHo para tomar uns pints de Guiness. Fechamos a noite tomando um banho de chuva, às margens do Thames, ao lado do Westminster Palace (ouvindo as badaladas do Big Ben), mas a tempo de pegar o Tube para voltar para a casa.

No dia seguinte, fomos pegar a Lucíola na estação, e o fim de semana passou a tomar uma forma diferente. Através dela, conhecemos o Evandro, e conseqüentemente uma visão bem mais experiente da vida e da noite em Londres. Com ele, fomos para um club perto de Victoria Station, e a partir daí eu comecei a repetir para mim mesmo: 'Não tenho mais dezessete anos!'. Não que o lugar fosse ruim, mas a minha tolerância para a música eletrônica (e, por música eletrônica, quero dizer música techno e assemelhadas, posso ter sido mal-entendido no decorrer da semana) é ainda menor do que era há alguns anos atrás. E esta tolerância é ainda menor se estou em um lugar onde a cerveja é cara. Ainda naquela noite, comecei a me dar por conta que eu estava me tornando cada vez mais ranzinza com meu bairrismo com relação às expressões culturais... mais especificamente, escrevi em algum canto que:

"Acho que está me faltando paciência para tentar assimilar a música techno/eletrônica/whatever como uma nova manifestação cultural, adaptada ao desenvolvimento tecnológico para a criação de ritmos e melodias... Tudo que eu me pergunto durante a festa era se milênios de evolução para desenvolver o dom da linguagem, mais alguns séculos de história organizando este dom em versos e trovas para demonstrar o que há de mais belo e profundo no sentimento humano, não valem mais nada? Aos meu ouvidos, me parece que este povo coloca uma batida pesada num emaranhado de sons, e às vezes 2 frases repetidas no meio, que são menos representativas que o barulho de um pica-pau cavucando um tronco oco ou um quero-quero no banhado anunciando sua insatisfação com um visitante indesejado na volta do seu ninho."

Fechamos a noite indo para a casa do Evandro, por um erro no meu planejamento - não levei em consideração que não é todo o lugar que dá para fazer festa até às 6 da manhã, e não planejei o Night Bus para voltar para a casa. Mas, mesmo com minhas restrições a festa e à música, a noite foi muito legal pela companhia: além de grandes companheiros de festa e trago, encontrei um pouco da boa e velha hospitalidade gaúcha.

O sábado já começou meio que pelo avesso por causa deste meu erro. Já era mais de 11 da manhã quando saímos da casa do Evandro, e as gurias estavam loucas para experimentar o tal do 'English Breakfast'. Mais uma vez, repeti para mim mesmo que 'não tenho mais dezessete anos', e a idéia de comer bacon, ovo frito e salsicha (com uma idéia distorcida de feijão com molho vermelho) depois de uma noite de trago já me deixava com náusea só de pensar. Mas, dentro do tube, me dei por conta que minhas manias já estavam começando a atrapalhar os outros, e dei o braço a torcer para descermos em Leicester Square e comermos o tal breakfast - confesso que caiu bem melhor do que eu pensava. Dali, continuamos caminhando pelos pontos turísticos, no que seria um passeio bem divertido se não fosse as pancadas de chuva e neve no meio do caminho. Na verdade, por estar bem vestido, a chuva não me incomodou tanto, e a neve foi mais um incentivo do que um incomodo (principalmente depois de tomar um sorvete de morango - meu lado infantil não pode resistir ao prazer de tomar um sorvete num dia de neve). Mas, para as gurias, o clima não estava tão confortável assim, e agilizamos o passeio para chegar logo em casa e tirar as roupas molhadas. Mais uma vez, me dei por conta de que 'Não tenho mais dezessete anos', quando o programa que escolhemos para a noite foi comer uma carnezinha assada no forno e ficar tomando um vinhozinho em casa.



O domingo fechou o feriadão com chave de ouro. Devidamente descansados, saímos para passear no Portobello Market (Notting Hill) que não estava lá muito legal, creio q por ser feriado. Almoçamos por ali e depois fomos para St Paul's Cathedral, dando uma volta pelo Thames e caminhando até a Tower Bridge. Mais uma vez, tenho que agradecer ao Evandro pela companhia, pois sem o conhecimento dele sobre a cidade eu talvez não tivesse apresentar muito de London para as gurias. Na foto acima, Carlinha, eu e Lu - London é o tipo de cidade em que ninguém dá bola para o que vc veste, mas acho que descobri o limiar para isso: meu poncho e meu chapéu chamaram mais atenção do que eu imaginava, de uma tia que veio conversar comigo até uns babacas tirando foto :P. No fim da noite, mais uma festa, mas desta vez um lugar bem mais legal, com cerveja mais barata e uma musiquinha mais agradável, além de mais uma figurinha maluca que reforçou minha teoria de que não vou conseguir entender as mulheres européias. Na saída da festa, ainda curtimos um passeio noturno na volta do Thames, de novo curtindo as luzes do Big Ben e do London Eye, com um 'Minuano' batendo e uma temperatura suavemente desconfortável (com os vidros dos carros congelados e tal).

Segunda-feira foi o dia de juntar os cacos... com a neve caindo na rua, e uma dor de garganta, passei o dia dormindo e sentindo que, realmente, não tenho mais dezessete anos.
Ainda assim, mesmo que eu talvez tenha deixado o inverno realmente entrar na minha vida nos últimos meses, que esta temporada em London esteja me tornando mais frio ou mais cinza, vem aí uma nova primavera... E com a companhia de bons amigos (e algumas indiadas), pude perceber que não vai ser alguns flocos de neve fora de época que vão me congelar!!!

Venha...
O amor tem sempre a porta aberta...
E vem chegando a primavera....
Venha, que o que vem é perfeição!!!

Happy St Patrick's Day

Certa feita, lá pelo século quinto, diz que havia um índio loco de bueno, que ainda piazote se tornou escravo lá pelas bandas da Irlanda. Mas o índio era tão guapo que conseguiu fugir, daí virou padre para atender os desejos da família, e se bandeou de novo para a tal da Irlanda, e não restou um vivente por lá que não respeitasse ele, tanto que 15 séculos depois o povo Irlandês ainda enche a cara de cerveja em sua homenagem. Aliás, esta tal de Irlanda parece ser um lugar flor de especial, q os nativos tomam trago nos dias santos (ou será q é em todo santo dia), e além disso tem dois grupos que até pouco tempo atrás viviam peleando, tal como Chimangos e Maragatos (inclusive, há algum tempo atrás presenciei uma discussão de dois destes viventes, e quase tivemos que tirar as facas do recinto).

Bueno, mas meu causo de hj, dois dias depois do dia que se comemora o tal do Patrick, não tem muito a ver com a Irlanda. Na verdade vou falar mesmo sobre minha viagem para Amsterdam, capital dos Países Baixos - e aqui quero corrigir um equívoco que cometo há muito tempo, o nome correto do país é 'Reino dos Países Baixos' ('Koninkrijk der Nederlanden', na linguagem neerlandesa), e não Holanda, que é apenas uma região do território. Da mesma forma, a línguagem é o neerlandês (nederlands), e não o holandês, conforme eu costumava chamar. Tendo corrigidas as definições sintáticas, deixe-me voltar ao que eu estava contando...

Semana passada foi daquelas ao meu estilo... trabalhando como um louco para fechar um artigo a tempo para um 'deadline', mas cheio de boas notícias (Dodonho, parabéns pela casa nova, e Mário, parabéns pela segurança financeira para mais um tempo de pesquisa). Daí, em conversa com Carlinha (a mineira mais Gaúcha que já existiu), decidi acompanhar ela e a Lucíola (outra grande parceria de festa e trago) para uma viagem a Amsterdam. Por ser decisão de última hora, para variar (e também pelo preço, é claro), comprei a passagem para o ônibus daqui para lá (aproximadamente 12 horas de viagem).

Mas, como sócio vitalício da FUNAI, sei bem que o lado positivo de toda indiada (a.k.a. programa de índio, para quem não está acostumado com o termo) tem como sua principal vantagem aquelas situações inusitadas e divertidas, que fazem com que 'o viajar seja mais do que a viagem' (parafraseando Herbert Vianna). Mesmo tendo voltado direto para o campus em Londres e ficar com os pés molhados ou gelados por quase 24 horas, por passar a tarde de domingo tomando banho de chuva pela cidade (para não dormir na estação depois das gurias terem ido embora), não me arrependo de mais alguns lugares muito legais que pude conhecer. Mas a viagem de ida é que reservou, realmente, boas risadas em ao menos duas situações. A primeira delas foi a pausa antes do ônibus entrar na balsa que atravessa o Canal da Mancha, onde eu fiquei no ônibus vendo um filmezinho do Chuck Norris, quase sem som e legenda em Neerlandês - e das duas uma: ou eu manjo muito de Neerlandês inconscientemente, ou o que o povo fala nestes filmes não faz a menor diferença para o entendimento da trama. A outra cena impressionante foi no convés da balsa, onde um grupinho de umas 15 pessoas, de ambos os sexos, estavam sentados em volta de uma mesa tomando cerveja. Até aí, nada demais, não fossem duas da madrugada de uma noite de inverno, batendo um vento forte (enfim, quase um frio Piratinense) e o pessoal usando apenas roupas íntimas - já deixo lançado o desafio à resistência ao frio do povo de Piratini.

Indo para o que interessa, Amsterdam é uma cidade ao menos interessante. É sabido que, na cidade, existem estabelecimentos onde o consumo de drogas é liberado (os chamados Coffeeshops). Além disso, um dos 'pontos turísticos' da cidade é o 'De Wallen', ou distrito da luz vermelha (dispensa mais explicações), além é claro das diversas lojas de produtos eróticos e até mesmo um 'museu do Sexo'. Ou seja, em outras palavras, é uma 'putaria organizada' (parafraseando Zé Cascaes). E, é claro, nada melhor para aproveitar a cidade que ficar hospedado num hostel há poucas quadras de qualquer destas 'atrações'. Como nada é perfeito neste mundo, ocorreu q este hostel era católico, com 'curfew' (toque de recolher) às 2 da manhã, e sessões opcionais de 'Bible discussion' (a qual não participamos, por razões óbvias). Mas este foi apenas um imprevisto da nossa equipe de escolha de hostel, e não devemos condenar ninguém pelo ocorrido :P. Ainda mais estupidez foi a do vivente que pagou para entrar em um Jardim Botânico para conhecer um pouco das famosas flores holandesas (o uso termo aqui não é incorreto), sem se dar por conta de que é inverno no hemisfério norte - neste último caso o babaca fui eu mesmo!!!!

Imprevistos e bobagens a parte, o tempo que passamos lá foi divertidíssimo. Para quem conhece as gurias, nem preciso dizer q a companhia delas foi maravilhosa, seja nas cervejas a preço de ouro que bebemos por lá, ou pelos passeios turísticos pelos diferentes pontos da cidade, incluindo as divertidas visitas ao tal do museu do sexo e a caminhada pelas ruas da tal da 'De Wallen' - e aqui tenho a obrigação moral de fazer um comentário aos amigos que tem interesse neste tipo de comércio: se vcs acham baixa a qualidade da Garibaldi em POA, ou a Praça Cel. Pedro Osório em Pelotas (há alguns anos atrás, não sei como está agora), só posso dizer que são um harém se comparado aos tipos que se encontram em Amsterdam.

Mas a grande diversão mesmo foi a noite. Não sei ao certo se isso é caretice ou covardia, mas a única erva que consumimos por lá foi a do mate cevado no fim da tarde - e ainda assim considero que nos divertimos bastante. Saímos pela noite em busca de um canto legal para beber e, depois de uma longa volta achando apenas lugares com fila, ingresso pago ou cerveja cara, encontramos um 'pub' irlandês - e foi ali que me dei de conta que era a semana que se celebra o tal do Patrick mencionado acima. Bem, nem preciso tentar usar adjetivos para descrever uma celebração de St. Patrick, em um pub Irlandês, com boa companhia, bebendo Guinness e ouvindo música celta ao vivo: acho que os fatos falam por si mesmo.




Para encerrar com chave de ouro, o domingo chuvoso pode ter atrapalhado nossa vontade de fazer um pouco mais de turismo, mas teve um chimarrãozinho pela manhã e o almoço em uma 'churrascaria' argentina, cuja decoração fazia lembrar os galpões dos CTG no meu Rio Grande. Nestes momentos é que temos que olhar para nós mesmos e admitir que, culturalmente, estamos em alguns aspectos mais próximos dos Hermanos do que do povo Brasileiro - claro, que as semelhanças pararam por aí, pois mesmo que estivesse bem no ponto, não me atrevo a chamar de churrasco aquele pedaço pequeno de carne com uns vegetais na volta.

Para encerrar, só queria dizer que passar o fim de semana entre costumes gaúchos e irlandêses em plena Amsterdam, só me mostrou mais uma vez que muitos dos grandes pontos turísticos da Europa acabam pecando pela falta de identidade em sua cultura popular. Mesmo que Amsterdam seja uma cidade muito bonita, com inúmeros atrativos, ainda assim a sua identidade para os turistas é a maconha e o mercado do sexo (o que, convenhamos, se encontra em qualquer lugar do mundo). Da mesma forma, viver em Londres tem mostrado isso, que com tanta coisa interessante, com tanto ponto turístico e tanta cultura diferente integrada, estes lugares acabam pecando pela falta de uma identidade, e como a Giulia dizia, parece que as pessoas que moram por aqui acabam impregnadas por este vazio. Deixo esta frase como um alerta às pessoas que estão aí do outro lado do oceano: se querem conhecer coisas interessantes, não precisam atravessar o Atlântico, às vezes basta atravessar a rua. Temos q valorizar CTGs, os forrós, os sambas de roda ou as rodas de capoeira... derrubar os orgulhos para deixar um tango Argentino ou a história Mineira também tocar nossos corações. Enfim, saber aproveitar o que esta América Latina pode nos proporcionar, pois mesmo que os governos não consigam prover a mesma estrutura turística que os países da Europa, por aqui eles nunca vão alcançar aquilo que temos de melhor: a alma e o sangue latino.

Bem, em breve colocarei um álbum com algumas das fotos que tiramos por lá. Mais uma vez, agradeço às gurias, pela companhia tão gostosa, e por um dos fins de semana mais divertidos desde que cheguei por aqui. A foto no meio, somos eu e as gurias no Pub, e a de baixo é uma que estava faltando no meu histórico: a de um chimarrão cevado na Europa. Abraços a todos.

2008

Feliz 2008...

Estive pensando em escrever um post ao estilo 'retrospectiva 2007', mas nos últimos dias do ano desisti da idéia por dois motivos. Primeiro, porque acho q meu humor no final do ano não refletia tudo o que passei, até mesmo porque passar as festas longe da família meio que me derrubou, e algumas notícias meio negativas pioraram ainda mais o humor. Além disso, 2007 foi um ano tão cheio de mudanças que acho que os fatos falam por si só, e não precisam ser enumerados pois as marcas que eles deixaram ficarão para sempre (e talvez não só em mim)...

Então, vamos deixar 2007 na memória, e vamos tratar de 2008, de novos sonhos, de novos planos... E, para mim, o ano começou de maneira bem divertida. Fui com a Giulia, a mãe dela, e mais alguns amigos para Primrose Hill, assistir aos fogos. Primrose Hill é um parque, próximo a Belsize (um dos hostels em que fiquei em outubro), e que, por ser um pouco mais alto, tem uma vista maravilhosa de Londres. Decidi começar o ano de branco: pela primeira vez desde que cheguei, usei a calça e colete brancos. Optei também por não colocar jaqueta, pois não estava muito frio. Nem preciso dizer que, bastou descer na estação que começou a chover, para tornar as coisas mais divertidas.

Uma das coisas legais da virada foi ter um pouquinho daquilo q eu estava sentindo falta... Crianças brincando (apesar de não conseguir brincar muito pq os moleques só falavam italiano), e um grupo de pessoas para compartilhar alguns momentos de risada... Durante a espera pelos fogos, até a piada do 'homem da mão sangrenta' eu cogitei contar, mas não tinha certeza se aqui eles também chamam 'band-aid' de 'band-aid'. Ainda tive a chance de conversar com uma criatura meio estranha, que começou a puxar assunto comigo do nada, e quando eu achei que podia ser por causa do charme dos olhos azuis, ela já começou a falar do quanto tinha vontade de estar junto com o ex-namorado...

Anyway, repetindo o que eu disse, 2008 começou bem divertido. Nos últimos anos, não ando muito ligado aos rituais de Natal e Ano Novo, mas acho que é o tipo de coisa que a gente aprende a valorizar no momento q não tem a chance de passar com aqueles que a gente ama. Não sei se por isso (ou se por já ter bebido um pouquinho), acabei gastando os (poucos) créditos que eu tinha ligando para algumas pessoas no Brasil, pessoas que amo, que são realmente importantes na minha vida (e, é claro, que eu lembrava o número). Sei que as telecomunicações não chegam a suprir a falta do abraço, do contato físico, mas sou grato à tecnologia para ajudar a amenizar esta saudade, a tornar ela pelo menos tolerável.

Por fim, a única foto que eu tirei... Quell, esta é para ti!!! Sei que parece estranho dedicar uma foto em que apareço bebendo exatamente para minha irmã, que não bebe. Mas a champagne (ou cidra, ou qualquer outro espumante barato) no bico da garrafa é nossa marca registrada de virada de ano, até mesmo no ano em que bebemos à tarde pois não iríamos passar a meia noite juntos. Mas, isso é uma outra história do passado, e prefiro manter a coerência do que eu disse no início e deixar o passado um pouquinho de lado, para nos concentrarmos neste ano que começa e que espero que seja repleto de felicidade para todos.