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Diário (mas não muito) de um experimento: Dias 2 a 5 - Sobre gente grande

Dentre o público leitor deste blog, aquele post em que eu falei que não tenho mais 17 anos causou uma certa polêmica (Por 'público do blog', entenda-se meia dúzia de pessoas, e por 'certa polêmica', entenda-se um ou outro comentário). Porém, mais um indício desta minha constatação pode ser detectado no que ocorreu nesta última semana. Para resumir a história, todas as madrugadas repetiram a primeira, onde o sono foi mais forte e não foi possível manter um nível considerável de produtividade (para não dizer que foram totalmente improdutivas). Porém, uma boa notícia é que as manhãs foram bem mais inspiradas, e não fossem os resultados negativos na minha pesquisa, eu teria colocado muita coisa atrasada em ordem.

Mas, desta percepção da primeira semana, me vem a mente o princípio de Occam. Basicamente, o tal do Willian of Ockham, um frade franciscano e filósofo aqui da Inglaterra, declarou certa feita que uma entidade (hipótese) não deve ser criada ou multiplicada sem necessidade, ou seja, de duas explicações para um determinado evento, deve-se dar prioridade àquela mais simples (baseada em menos hipóteses). O que quero dizer é que, se minhas manhãs são produtivas, por que não considerar a explicação mais simples (ao menos de acordo com o senso comum), de que eu devo dormir cedo e acordar cedo???

A resposta para isso é, também, bastante simples... Quem acompanhou o programa humorístico do Chico Anysio, no final dos anos 80 ou início dos 90, deve lembrar de um personagem chamado 'o Jovem', cujo mote era 'eu sou jovem, e jovem é outro papo'. Basicamente, o personagem era caracterizado por fazer tudo diferente dos padrões (o único exemplo que me lembro claramente é de tomar sopa de garfo - o que para mim é um padrão devido a falta de caldo nas sopas que faço). A minha idéia de ficar acordado na madrugada pode ser, de fato, visto como uma destas tentativas de fugir destes padrões de gente grande, talvez algo inconsciente, como uma tentativa de minh'alma para permanecer jovem.

Não que eu realmente precise disto - quando olho para os lados, e vejo este mundo que eu vivo, não me canso de notar que eu ainda compartilho aquela opinião do Pequeno Príncipe de Saint-Exupery: "Gente grande é bem estranha" (Les grandes personnes sont bien étranges) - diga-se de passagem, um livro que posso ler milhares de vezes, e sempre me sensibilizo quando leio.

Uma passagem do livro que acho fascinante, é aquela que diz que gente grande só consegue entender números. Se disseres para um adulto que tem uma casa bonita, bem ilumidada, com um jardim grande e flores na sacada, ele não tem nem idéia do que é esta casa. Mas, se disseres que a casa tem 10 de frente por 20 de fundo, e custou 50 mil, pode ter certeza que vão te dizer que foi ou não um bom negócio. Exageros à parte, acredito que ele tem grande razão.

Um exemplo parecido, eu encontrei ao passear com diferentes pessoas pela Europa. Para muitos dos meus amigos, fazer turismo é conhecer (e tirar fotos, é claro) Tour Eiffel, Big Ben e De Wallen. Mas, pude perceber que às vezes não conseguiam me entender, quando eu admirava um jardim com flores, uma construção diferente daquelas dos pontos turísticos, ou quando tentava explicar o quanto um lugar fora importante quando eu cheguei aqui.

Mas não critico eles... com certeza eles tem razão em querer 'conhecer e aproveitar ao máximo enquanto estão aqui'. E com certeza, também, os roteiros turísticos são maravilhosos, principalmente para nós que viemos do outro lado do oceano. Mas, intimamente, não consigo assimilar esta mania de 'gente grande', de querer contar, e guardar, e seguir roteiros e planos. Particularmente, ainda sou mais fã de sensações do que de rótulos - mas conto com todos vocês, meus amigos, pois sou um completo perdido para fazer turismo e seguir roteiros.

Mas, por fim, resta uma pergunta crucial: se, por motivos diversos, eu argumento que não tenho mais 17 anos - e por outro lado não consigo ser 'gente grande', que idade então eu tenho??? A resposta, felizmente, eu encontrei em duas lojas de brinquedos que eu visitei por aqui (claro, com a desculpa de procurar presente para o Bolívar e o Daniel). Dado o quanto eu fiquei bobo com as prateleiras de Lego, e os quebra-cabeças, e os carrinhos e robôs, e bolinhas de gude (sim, para meu deleite, elas ainda existem) e bolas de futebol, cheguei a conclusão que são meus pais quem tem razão: eu ainda sou é uma criança!!!

Abaixo, um videozinho de acordo com a temática do post: Balão Mágico para ilustrar as memórias mais longínquas da minha infância, com a música 'Lindo Balão Azul', que às vezes acho que tem a ver comigo, não sei se 'porque sou um cientista, o meu papo é futurista, é lunático' ou se porque 'tenho alma de artista, sou um gênio sonhador e romântico'. Forte abraço a todos.





Diário de um experimento: Dia 1 (meridianos e paralelos)

Bueno... não tenho muito a dizer sobre este primeiro dia... acordei por volta das 20h30, e fiquei fazendo uma ou outra tarefa doméstica, até começar a falar com o pai e a mãe pela internet. Uma das dificuldades nesta vida Londrina é a sincronização com o meridiano de Greenwich e seu horário, então as madrugadas insones também ajudam a manter a comunicação com o povo do meu fuso natural.

Porém, o experimento em seu primeiro dia não foi muito positivo. Acabei cedendo ao sono da madrugada (dormindo pouco mais de duas horas), e o período da madrugada não foi muito produtivo. Os resultados da manhã, também, não foram de todo bons - mas principalmente por causa da instabilidade dos sistemas dinâmicos com que trabalho (a desculpa para dizer os resultados de meus experimentos seguem, ao menos, difíceis de entender - e ainda mais de explicar). Ao menos a manhã serviu para reforçar minha idéia de que não devo sair pela manhã depois das 7:30, para não pegar a versão britânica do 'trem de lata de sardinha' - não como o trem do gurizinho da música 'trem de lata', mas como um bando de vagões com pessoas se apertando como sardinhas enlatadas.

Ao menos, tenho carregado comigo um sorriso nos lábios... Talvez a inversão da latitude, e os dias gris de London, tenham confundido um pouco meus instintos, pois com certo atraso parece que estou começando a sentir os efeitos da primavera, da beleza de uma ou outra flor encontrada no caminho. De qualquer forma, creio que não perdi minha estranha mania de sorrir a maior parte do tempo (mesmo que eu venha usando este blog para resmungar um pouco), até mesmo porque não acredito que tristeza, mal humor e cara feia são capazes de resolver qualquer coisa nesta vida...

Diário de um experimento - Prólogo

Interrompemos a programação normal deste blog (que consiste em ficar semanas sem postar nada) por um motivo de interesse científico: usarei o blog para relatar um experimento que irei conduzir nas próximas duas semanas. Desde meus bons tempos de graduação (talvez até um pouco antes), tenho a convicção de que o período de trabalho pela madrugada é mais produtivo. Durante o mestrado, consegui perceber também que as manhãs que seguem estas madrugadas de trabalho também costumam propiciar uma produtividade bem razoável.

Acho que já comentei com algumas pessoas que meu horário ideal para produzir bem seria dormir à tarde e trabalhar pela noite e pela manhã. Então, resolvi aproveitar estas últimas semanas antes do solstício de verão para avaliar esta hipótese. Meu experimento, então, consiste em manter um 'timetable' um pouco mais estrito durante as próximas duas semanas (mais especificamente até o sábado, 21 de junho), e avaliar se eu realmente consigo me adaptar ao horário e se realmente vai ocorrer um aumento no meu nível de produtividade (que anda muito baixo ultimamente).

A partir de hoje (terça-feira, 10) meus dias vão começar entre às 20h e 22h, horário que pretendo acordar. A partir de então, faço um café, organizo qualquer coisa que seja necessário em casa, e começo a trabalhar até a meia noite. Me mantenho trabalhando em casa até às 6 da manhã, quando paro para um banho e outra refeição e me desloco para o campus, onde fico trabalhando até o meio dia. Ao meio dia, volto para a casa, almoço e vou dormir. No fim de semana, deixarei meio liberado para algum outro programa, desde que isso afete este muito horário planejado de sono.

A idéia de usar o blog para descrever o que está acontecendo é, principalmente, para me sentir um pouco mais de obrigação de relatar este período - o fato de estar na internet implica que outras pessoas podem ler, e aumenta um pouquinho a responsabilidade de escrever (e do que escrever). Farei o possível para tornar a leitura de vocês mais agradável, porém não acredito que será algo muito interessante de ler. Ainda assim, para aqueles interessados, colocarei diariamente um post, mesmo que pequeno, dizendo o que está acontecendo realmente.

Para começar este relato, posso dizer que estou iniciando bem empolgado com a idéia. Passei um fim de semana bem divertido, na companhia da Helena - colega de graduação que veio passar uns dias em London. O fato de levar ela na estação no início desta manhã facilitou o processo de sincronização - fui ao campus cedo pela manhã e trabalhei (mesmo morrendo de sono) até o meio dia, para depois almoçar em casa e dormir. Como meu orientador não estará por aqui nestas semanas, não tenho a obrigação de ir à universidade à tarde, o que possibilita todo o processo.

Bueno, não tenho muito por escrever agora... se estão interessados em saber mais sobre esta minha idéia maluca - ou mesmo para ver quanto tempo eu agüento sem acabar dormindo por um dia inteiro - acompanhem por aqui os próximos episódios desta saga!!!

Forte abraço a todos

Spes X Lady I.

Certa vez, comentei com um amigo sobre os efeitos da solidão, sobre aquela sensação de insanidade que fica perene ao nosso redor... uma insanidade que às vezes parece se personificar, que bate à nossa porta a cada vez que a solidão começa a tomar conta... Como diria Oswaldo Montenegro, é aquela face da solidão "que a gente às vezes acha que é carga demais, que a gente jura por Deus que não merecia". Acho que, ainda nos tempos da solidão Porto-alegrense, cheguei a escrever um pouco sobre esta sensação de insanidade personificada, e ela inclusive chegou a inspirar outro grande amigo, o Ezequiel (forte abraço, irmão!), a criar um personagem de história em quadrinhos (se não me engano, chamada Lady I.).

Pois eu poderia passar linhas e mais linhas por aqui falando de saudade e solidão... falando da força de Lady I. ou mesmo do medo de que ela chegue e tome conta. Mas existe uma coisa muito importante sobre ela que todos precisam saber: ela se alimenta deste medo, deste desespero, desta nossa mania de ficar remoendo e remoendo o quão triste é a tristeza, ou o quão solitária é a solidão. Mas, como diria Vinícius de Moraes, "a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não".

Então, é desta esperança que eu vou escrever um pouquinho... é a ela que eu costumo me apegar para enfrentar a poderosa Lady I, com suas causas e seus efeitos. A palavra 'Esperança' vem do latim 'spes', que também era o nome de um espírito na mitologia romana, equivalente a Elpis, na mitologia grega. Dizem que certa feita, depois que o tal de 'Prometheus' criou a humanidade, ele roubou o fogo dos céus, provavelmente para assar aquele costelão doze horas com os xirus que acabaram de chegar no mundo. Só que Zeus, que era um índio meio maula, se revoltou com esta história, e mandou uma china lindaça, uma tal de Pandora, para causar o entreveiro na humanidade. Esta china casou com o irmão do tal do 'Prometheus', e Zeus mandou como presente uma caixa cheia de demônios e espíritos maus. Quando a Pandora (não sei se por inocente ou se por maleva) abriu a caixa, os demonios escaparam pelo mundo, e começou toda a bagunça que a gente vê mundo afora. O único espírito que ficou na caixa, para dar conforto e apoio a humanidade, foi exatamente Elpis (Spes).

Acontece que, hoje em dia, muita gente ainda segue se apegando a 'Spes' de uma maneira comodista, achando que 'esperança' consiste meramente em esperar que as coisas melhorem por si só (ou por alguma intervenção divina). Com isto, seguem sentados, esperando, e como as coisas (geralmente) não vão para a frente sem um empurrãozinho da nossa parte, a esperança dá lugar a frustração, à reclamação e, novamente, começa a alimentar aquela indesejada companheira da qual eu vinha falando.

Desta maneira que eu coloquei, dependendo da ótica de quem lê, parece que está tudo perdido... se a gente deixa 'Spes' de lado, a gente cai nas garras dos demônios, se a gente se apega a ela, a gente deixa a guarda aberta para os demônios atacarem. Mas minha linha de argumentação é um sutilmente diferente... O que eu quero dizer é que para encarar os demônios, para não deixar a Insanidade tomar conta, a gente precisa de um apoio, de um suporte, de uma 'Spes' de alguma forma... de algo que nos dê a força necessária para seguir em frente, sem o conforto exagerado a ponto de nos deixar sentados esperando por algo que nem sabemos o que é (nem tampouco se vai acontecer).

Pois é... como muitos devem ter percebido, todo este meu 'blá blá blá' é apenas para introduzir o que eu realmente quero dizer. Como eu costumo brincar com algumas amigas (especialmente a Lu Feijó, que tem sido fantástica aturando um bêbado ligando para ela nas madrugadas :P), parece que nós, homens, crescemos sempre com uma barreira ao redor dos nossos sentimentos, tal que a gente tem menos medo de encarar exércitos do que dde dizer 'Eu te amo' para alguém. Então, toda esta enrolação é só para tornar mais fácil a tarefa de agradecer a minha 'Spes' - a fonte de toda a força que ainda tenho nestes momentos difíceis - que são a família e os amigos que realmente amo muito.

Recebi, nos últimos dias, dois presentes maravilhosos que me sensibilizaram muito. Um deles foi o convite para ser padrinho do Daniel, filho da Fátima que nasceu nos últimos dias - não sei o que passa na cabeça desta maluca de convidar um ser ainda mais maluco para padrinho de uma criança tão fofa, mas sei que sou imensamente grato, não só pelo convite, mas por esta nossa amizade de tanto tempo (obrigado também ao Mono, parabéns pelo filhote lindo, que espero que seja gremista como o pai!!!). O outro presente, (daqui a uns dias boto uma foto para vcs verem), é o Pavilhão Tricolor, a bandeira da minha querência amada, com a assinatura de muitas pessoas que amo (e que sinto muita saudade): Obrigado Pai e Mãe, não só por ter idealizado tudo, mas por tudo o que vocês foram e são na minha vida... obrigado Quell e Bolívar, vcs sabem que são a razão mais forte desta minha vontade de vencer e voltar! Obrigado a tia Maristela e ao Lucas, que tantas vezes me trataram como um filho e irmão (e podem ter certeza que este sentimento é recíproco). Obrigado à 'Dinda Beca', que mesmo que a gente não tenha tanto contato, sempre carrego comigo como um exemplo de força e de superação. Obrigado a todos os outros familiares, cada um de vocês é especial para mim, e a saudade e a vontade de estar perto de todos é sempre muito forte. E obviamente, obrigado àquele povo daquela da Vila Farroupilha (ou melhor, Rua Jornalista Salvador Hitta Porres, pois a vila era mais embaixo um pouquinho :P)... a esta gente maravilhosa que cresceu comigo, naquele cantinho de mundo que ainda carrego nas lembranças e nos sonhos de minhas noites inquietas - podem ter certeza que, se hoje dou tanto valor a idéia de amizade, é por que desde a infância tive amigos maravilhosos como vocês!!!

Para finalizar, tenho estado com um trecho de uma música da Legião na cabeça ultimamente, que diz "Já não sei o que aconteceu, se tudo o que sonhei foi mesmo um sonho meu, se meu desejo então já se realizou, o que fazer depois??? para onde é que eu vou???" - Mesmo que os ventos do destino possam vir a mudar meus rumos nos tempos vindouros, acho que o parágrafo acima (juntamente com tantas outras outras pessoas também intensamente especiais na minha vida) respondem a esta pergunta. E se a tristeza tem a esperança de um dia não ser triste, a minha solidão tem hoje a esperança de estar com vocês em breve, de viver e construir o que for preciso por estas bandas de cá, de fazer valer a pena este sonho europeu, para que ele não seja só a tristeza da distância, mas também a felicidade de desbravar novos pagos, conhecer novas culturas, viver intensamente um pouco mais o que esta oportunidade me proporcionou.

Ah... como um 'Post Scriptum', não pensem que a vida por aqui é só solidão não. Se vocês entrarem em picasaweb.google.com/passarel vão ver algumas das coisas que ando aprontando com os grandes amigos que estão por aqui. Só achei desnecessário contar as histórias das viagens no blog, pois dizem que uma imagem vale por mil palavras - e como são muitas fotos, talvez para explicar todas seria necessária uma quantidade de palavras que deixaria a leitura do blog ainda mais enfadonha. E, se nada der errado, em agosto cruzarei o Atlântico para passar umas semanas com o povo por aí (em breve mais detalhes).